


Cátedra UNESCO Drenagem Urbana em Regiões de Baixada Costeira
HISTÓRIA

Ao longo de toda década de 90, a Área de Recursos Hídricos da UFRJ sediou um bem-sucedido projeto de pesquisa com recursos nacionais e internacionais, provenientes do Banco Mundial. Coube ao Laboratório de Hidrologia a tarefa de estudar e projetar medidas estruturais e não-estruturais de mitigação dos efeitos das inundações que estavam trazendo, sistematicamente, pesadas perdas econômicas e sociais à região da Baixada Fluminense... O conhecido Projeto Iguaçu.
Essa experiência permitiu que a Área de Recursos Hídricos da UFRJ estabelecesse um forte avanço técnico no campo da gestão dos recursos hídricos. Seus pesquisadores em muito militaram na organização da Lei das Águas, de 1997, em conjunto com outras importantes universidades do país e, particularmente, junto à Associação Brasileira de Recursos Hídricos.
Em 2000, como decorrência dessas experiências, a recém-formada Agencia Nacional de Águas - ANA e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD assinaram um convenio com a UFRJ visando o desenvolvimento de pesquisas aplicadas de apoio à missão institucional da ANA. Coube-nos também ajudar a ANA na concreta implementação da política de recursos hídricos no país, em uma bacia hidrográfica piloto, a importante bacia do Rio Paraíba do Sul. Iniciava, aí, a gestão compartilhada de água bruta por bacias hidrográficas, em âmbito nacional.
O crescimento experimentado pela Área de Recursos Hídricos na UFRJ nos anos 80 e 90, haveria que assistir a mais uma nova onda de modernização científica. As técnicas computacionais, que nos anos 60 e 70 tinham seus cálculos feitos em computadores de grande porte, chamados de “mainframe”, tiveram que migrar para a lógica dos terminais de mainframe e, em seguida, para uma nova concepção de ferramenta computacional, representada pelos PCs – microcomputadores pessoais.
Isto significou o desenvolvimento de novas linguagens computacionais, novas metodologias hidráulicas e hidrológicas, novas famílias de modelos matemáticos e novos métodos de representar dados espaciais através de sistemas geográficos de informação. Uma revolução no cálculo científico, que levou a UFRJ a criar um novo laboratório, o Laboratório de Hidráulica Computacional, com a missão não só de incorporar a modelagem computacional às suas pesquisas, mas também para avançar com a oferta de ferramentas computacionais práticas, voltadas para a solução de problemas complexos da sociedade.
O século 21 se iniciava com dois produtivos laboratórios trabalhando na UFRJ, lado-a-lado, pela ciência dos recursos hídricos. E assim foi, por toda a primeira década do século... formando pesquisadores, aprimorando técnicas e modelos aplicados à engenharia... incluindo novas técnicas na modelagem matemática... consolidando os trabalhos de mais de 40 anos no campo da hidráulica e da hidrologia.
A segunda década do século 21 foi marcada pela constatação de que as cidades, cada vez mais complexas, traziam problemas hídricos cuja solução não era encontrada tão somente no campo cientifico das engenharias. A busca de uma solução economicamente viável necessitava o auxílio de outros campos da ciência, particularmente no campo do urbanismo.
É preciso lembrar que o conhecido Projeto Iguaçu dos anos 90 se distinguiu pela sua visão integrada da bacia hidrográfica e, mais ainda, pela percepção da necessidade de discutir, também de forma integrada, recursos hídricos, saneamento e desenvolvimento urbano. Até aquele tempo, a solução de um problema de inundação era procurada e desenhada exatamente no local do problema, sem uma visão sistêmica. A lógica de procurar na bacia hidrográfica a origem de um problema localizado foi uma lógica vitoriosa. Na maioria das vezes, a origem do problema e sua consequente solução se encontrava espalhada por uma área maior, só identificada quando toda a bacia hidrográfica era estudada.
Similarmente, a segunda década do século 21 se distinguiu pela intensificação da lógica de procurar na bacia hidrográfica e no urbanismo a origem de um problema hídrico localizado. Na maioria das vezes, a busca da melhor solução necessita o auxílio de outros campos da ciência, particularmente do campo da arquitetura e urbanismo. E essa foi a lógica que, cada vez mais, orientava o desenvolvimento dos trabalhos de pesquisa de recursos hídricos na UFRJ.
Esses últimos anos foram pródigos ao construir um interessante agrupamento de fatos da vida universitária. Motivados por forças internas e externas à UFRJ, o grupo de recursos hídricos da UFRJ viu florescer sementes plantadas ao longo dos mais de 40 anos de trabalhos científicos. Viu um florescimento quase simultâneo de três eventos:
(A) Motivados pelos resultados alcançados na pesquisa continuada e motivados pelo crescente interesse do alunado, os grupos de Engenharia e de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ, relacionados com os recursos hídricos, decidem interagir, formalmente, em cursos, linhas-de-pesquisa, trabalhos técnicos e formação de pessoal, para encontrar novas soluções para os problemas hídricos que costumam ocorrer nas complexas áreas urbanas de nossas cidades.
(B) Os Laboratórios de Hidrologia e de Hidráulica Computacional, que, nessa década, funcionavam como que fundidos fossem, vão se adaptando, gradativamente, a esse novo conceito de suas pesquisas, que olham a Engenharia e a Arquitetura e o Urbanismo como ciências complementares para enfrentar as dificuldades de uma cidade moderna, com a água surgindo como valor ambiental, referência histórica e cultural, que marca a paisagem da cidade e elemento de revitalização urbana. E os dois laboratórios evoluem para assumir, de vez, a desejada complementaridade das ciências que orientam a vida de uma cidade moderna. Nesse contexto, nasce o LAC: Laboratório Água e Cidade.
(C) Além do reconhecimento pelos pares e o reconhecimento social dos trabalhos executados, a UNESCO decidiu distinguir o grupo de recursos hídricos da UFRJ com o honroso título, em âmbito continental (América Latina e Caribe), de UNESCO Chair for Urban Drainage in Regions of Coastal Lowlands at the University of Rio de Janeiro, Brazil.
Esses três eventos, aparentemente independentes, parecem se completar para iniciar uma nova e futura etapa dos recursos hídricos na UFRJ. Uma etapa que une as pesquisas do campo da arquitetura, urbanismo e meio ambiente com as pesquisas do campo da engenharia e meio ambiente, tendo como tema central a tríade Cidade-Água-Meio ambiente.